Reportagem de Vicente Vilardaga, com realização de Kika Brandão, publicada na revista Alfa
BELEZA AMERICANA
Camilla Belle faz filmes desde criancinha, fala português com um delicioso sotaque de gringa e está aberta a novas oportunidades
Apesar da beleza americana e da pele branca como a neve, a alma da atriz Camilla Belle tem as cores do Brasil e um de seus passaportes também. Visita o país desde os 2 anos de idade, quando a levaram para Santos, cidade natal de sua mãe, Deborah, e ganhou uma camiseta do time de Pelé.
Nasceu em Los Angeles, nos Estados Unidos, respirando o oxigênio de Hollywood, mas cresceu movida a pão de queijo e brigadeiro e não teve outra opção a não ser falar português em casa. Se falasse inglês, levava uma bronca. “Minha mãe construiu uma casa brasileira nos Estados Unidos e sempre fez questão de mostrar como era o país dela”, lembra, com seu sotaque doce, como o de Kate Lyra, uma atriz gringa que, nos anos 1970, falava “Brasileiro é tão bonzinho” no programa humorístico Planeta dos Homens, da TV Globo.
“Gosto da proximidade entre as pessoas e do jeito como os amigos se tratam por aqui: com intimidade e carinho.” Futebol e novelas compõem a sua memória sentimental. Das novelas, inclusive, veio o nome Camilla, homenagem da mãe à personagem da atriz Renata Sorrah em Cavalo de Aço, de 1973. Viajou pelo Brasil em muitos verões de sua vida e todas as vezes passou em Santos, onde Deborah tem parentes e amigos.
Camilla se iniciou na carreira ainda bebê, fazendo comerciais, em Los Angeles, e aos 6 anos interpretou seu primeiro papel em um filme para a TV. Participou de O Mundo Perdido: Jurassic Park, de Steven Spielberg, um de seus grandes momentos na infância.
Foi uma atriz mirim atarefada e cheia de compromissos e sempre trabalhou sem parar, com um intervalo de alguns anos em que a mãe a obrigou a se dedicar seriamente ao ensino médio e também a estudar espanhol e francês. Na volta da temporada de estudante, surgiram as primeiras chances para se redirecionar na profissão como adulta.
"Gosto do jeito como os amigos se tratam no Brasil: com intimidade e carinho" (Foto: Maurício Nahas)
Em O Mundo de Jack & Rose, sua personagem era Rose, uma garota de 16 anos (tinha 19 na época) que morava sozinha com o pai em uma ilha deserta e enfrentava os dramas da adolescência e do isolamento. Quem interpretou o pai, Jack, foi Daniel Day Lewis. Embalou em outras duas produções de menor repercussão no mesmo período, o drama O Preço do Silêncio, em que fazia o papel de Dot, uma mulher muda, e no suspense Quando um Estranho Chama.
Agora, aos 26 anos, Camilla busca um lugar nos trópicos. Está convencida de que a combinação de sua diáfana beleza americana com a habilidade para falar línguas latinas com um delicioso sotaque pode lhe render bons personagens globais. Os dramas familiares e as histórias de amor filmados mundo afora envolvem cada vez mais gente que chega de qualquer região, com nacionalidade indefinida e jeito de estrangeiro, e não faltam oportunidades para atores talentosos e versáteis.
O mercado está aberto. Nas suas andanças profissionais, Camilla já fez dois trabalhos com diretores brasileiros: À Deriva, do pernambucano Heitor Dhalia, de 2009, e Open Road, dirigido nos Estados Unidos por Marcio Garcia, em 2011, e cuja última previsão de estreia era o dia 12 de abril.
Nos dois papéis, aproveitava essa condição de garota que tenta se orientar (ou se perder) geograficamente. Também filmou um curta-metragem no México, Zero Hour The Film, com roteiro de Guillermo Arriaga. Quer muito mais. Adoraria entrar em novos (e bons) projetos na América Latina.
“Acho divertido fazer filmes populares e com grandes elencos”, afirma Camilla, que foi a estrela do épico pré-histórico 10 000 A.C., megaprodução com orçamento de US$ 105 milhões. Sua personagem era uma mulher das cavernas chamada Evolet, namorada de um caçador de mamutes. “Mas em produções menores posso me testar mais”, completa.
“O problema é que o cinema americano passa por um momento difícil e os filmes mais interessantes, de que eu mais gosto, com orçamentos de até 5 milhões de dólares, foram muito afetados.” Como vem fazendo nos EUA, Camilla quer se aproximar de cineastas independentes em outros países e oferecer seus múltiplos talentos e sua beleza de diva existencialista em papéis desafiadores.
"Cresci em uma casa brasileira e se não falasse português levava uma bronca"
Não pensa em televisão, só em cinema. Prefere participar de projetos mais autorais, ainda que o dinheiro seja pouco. Gostou muito da experiência de À Deriva, em que contracenou com o francês Vincent Cassel. No filme, rodado em Búzios, ele era Matias, e ela, Ângela, sua amante. Foi a primeira vez que ambos fizeram um papel falado em português.
A mãe, Deborah, é companheira inseparável de Camilla. Preparou a filha desde pequena para ser atriz ao mesmo tempo que lhe deu uma formação religiosa. Examina todos os roteiros que chegam a ela. “Temos uma partnership [parceria]“, define, enquanto acompanha a sessão de fotos com máxima atenção.
Não quer nada de vulgaridade nem que o corpo de Camilla apareça muito. Gostou do cenário escolhido por Alfa. É um bar em São Paulo com estilo antiquado, meio retrô, que combina com a languidez de Camilla. “Sou muito família, passo o tempo vendo novela e ainda moro com minha mãe”, diz.
Aparentemente nada a ver com Angie, sua personagem em Open Road, uma brasileira que se larga enlouquecida em uma viagem pelos EUA e encontra o eremita Chuck, encenado por Andy Garcia. Camilla também está na estrada, mas não está sozinha e nem é rebelde. Deborah vai ao seu lado.
(foto QG Magazine)
Nenhum comentário:
Postar um comentário